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Identificando Medicamento que Bloqueia Efeitos da Doença

- 06 de abril de 2020 -

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Os investigadores do Instituto de Bioengenharia da Catalunha, em Espanha, do Instituto Karolinska, na Suécia, do Instituto de Biotecnologia Molecular da Academia de Ciências da Áustria e do Instituto de Ciências da Vida da Universidade de British Columbia, no Canadá, identificaram o fármaco, que está em fase clínica de testes, utilizando rins minúsculos gerados a partir de células estaminais humanas, num laboratório de Barcelona, com recurso a técnicas de bioengenharia.

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Os investigadores conseguiram decifrar como o SARS-CoV-2 interage e infeta as células humanas do rim e, a partir daí, começaram a testar o potencial do fármaco, segundo um artigo publicado hoje na revista científica Cell.

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Estudos recentes demonstraram que, para infetar uma célula, os coronavírus utilizam uma proteína, denominada S, que se une a um recetor das células humanas denominado ACE2. Ora, tendo em conta que essa união é a porta de entrada do vírus no organismo, evitá-la pode ser uma possível terapêutica.

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"Estas descobertas são prometedoras para um tratamento capaz de deter a infeção num estádio inicial deste novo coronavírus", comentou Núria Montserrat, investigadora espanhola, em declarações à agência espanhola Efe.

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O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de um milhão de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 51 mil.

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Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 209 mortes e 9.034 casos de infeções confirmadas. Dos infetados, 1.042 estão internados, 240 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 68 doentes que já recuperaram.

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Medicamento contra parasitas elimina em laboratório o novo coronavírus 

- 12 de abril de 2020 -

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Uma droga comum, que é há muito usada como antiparasitária, mostrou-se eficaz em laboratório contra o vírus Sars-cov-2 que provoca a covid-19, anunciou a universidade australiana de Monash, cujos investigadores realizaram a investigação em colaboração com colegas de outras universidades australianas.

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A equipa procura agora fundos para passar à fase seguinte: os ensaios clínicos para perceber se existe uma dose segura, e eficaz, em humanos para eliminar o vírus.

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No estudo publicado há dias na revista científica Antiviral Research , a equipa liderada por Kylie Wagstaff, mostra que a droga Ivermectin, como é designada, inibe a infeção pelo Sars-cov-2 em células cultivadas in vitro. De acordo com os resultados do estudo, em apenas 48 horas uma simples dose do medicamento é suficiente para eliminar os vírus nas células.

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"Descobrimos que até uma simples dose [do medicamento] consegue remover todo o material genético do vírus em 48 horas e que mesmo após as primeiras 24 horas há uma redução significativa da presença do vírus", afirma a coordenadora do estudo citada num comunicado da sua universidade.

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Os investigadores sublinham, porém, que este é um primeiro passo, e que é necessário avançar agora para estudos in vivo, de forma a poder "determinar a dosagem correta, para assegurar que as doses usadas nas experiências in vitro são seguras para os seres humanos", escrevem os autores.

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"Num momento em que enfrentamos uma pandemia e em que não há nenhuma droga aprovada como tratamento para a doença, se tivéssemos um composto já disponível, aprovado para uso humano, poderíamos ajudar os doentes mais depressa. Realisticamente, ainda vai levar algum tempo até haver uma vacina disponível para a população", antevê Kylie Wagstaff.

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Nesta altura, os cientistas desconhecem de que forma o Ivermectin atua sobre o vírus, mas suspeitam de que a sua ação pode estar relacionada com alterações nas próprias células, que se tornariam um meio hostil à proliferação do vírus.

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A suspeita baseia-se em observações anteriores acerca dos efeitos da mesma droga em relação a outros vírus em relação ao quais o Ivermectin também se mostrou eficaz, como os de dengue, gripe, o HIV e o zika. Também é usado contra piolhos e a infecção parasitária da sarna.

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Encontrar a dose certa e segura:

"O Ivermectin é amplamente usado e considerado como um medicamento seguro. Agora precisamos de descobrir se a dosagem que é necessário usar em humanos para eliminar o vírus é eficaz", diz a mesma investigadora, sublinhando que esse "é o próximo passo".

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A atividade antiviral desta droga, contra o HIV ou o dengue, entre outros, foi descoberta em 2012 pela equipa de Kylie Wagstaff.

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Cumprida com êxito esta primeira etapa, a equipa procura agora o financiamento necessário para prosseguir na sua linha de investigação e, quem sabe, encontrar uma potencial solução no combate à covid-19.

Este não é, de resto, o único medicamento já aprovado para uso humano que está em testes, para se perceber se poderá dar um contributo no combate à doença.

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Como o DN noticiou anteriormente há inúmeros grupos de investigação no mundo que estão a testar uma série de medicamentos já aprovados na clínica para tentar encontrar um, ou mais, que possam ter um efeito inibidor do Sars-cov-2.

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Sem medicamento específico nem vacina, se algum dos que já estão aprovados mostrarem ter sucesso, isso poderá permitir encontrar mais rapidamente uma solução para a pandemia, já que uma vacina na melhor das hipóteses ainda levará ano a ano e meio a ser produzida, se tudo correr bem.

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"XIAOMI LANÇA MÁSCARA ELÉTRICA QUE CARREGA VIA USB"

- 17 de Abril de 2020 -

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A pandemia de Covid-19 tem impulsionado o surgimento de alguns recursos melhorados para fazer face ao combate do novo coronavírus. É o caso da nova máscara de esterilização elétrica da Xiaomi, que carrega via USB.

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A Xiaomi é muito conhecida pelos seus smartphones, mas a empresa possui produtos de vários outros setores. Aliás, o principal mercado da Xiaomi é mesmo a sua distribuição sobre diferentes plataformas, não se ficando apenas pelos smartphones.

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A pensar nisso, a empresa revelou recentemente um novo produto que, além de diferente, se adequa ao momento que vivemos atualmente com a pandemia do novo coronavírus.

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As máscaras tornaram-se um bem muito precioso, e encontram-se praticamente esgotadas em qualquer estabelecimento comercial. Este equipamento é tão escasso que nem os profissionais de saúde dispõem de máscaras suficientes para trabalhar com as condições de proteção adequadas – não só em Portugal, como em todos os países onde a Covid-19 tem atingido a população com maior força.

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Neste sentido, a empresa lançou recentemente a Xiaomi Youpin Q5S, a mais recente novidade que alia tecnologia à saúde. Trata-se de uma máscara elétrica que purifica o ar até 95% e carrega via USB.

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A máscara de esterilização elétrica tem quatro filtros: um HEPA (um filtro de ar de alta eficiência), um externo de metal, um de papel estéril que evita germes e o último de uma camada feito de tecido impermeável que evita a humidade. Este sistema de filtragem faz com que este equipamento proteja contra a poeira, fumo de tabaco, gases emitidos pelos automóveis, pêlos de animais, pólen e bactérias.

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A estrutura plástica e os acabamentos de algodão e silicone proporcionam conforto e ajudam a adaptar a máscara ao rosto. Além disso, a bateria de lítio recarregável USB tem autonomia de 4 a 6 horas que, apesar de não ser o suficiente para um dia inteiro de trabalho, torna a máscara muito útil para uma ida às compras, por exemplo.

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O objetivo deste produto não é ser um objeto de ostentação, mas sim proteger com a máxima eficiência possível o ar que chega aos pulmões de quem utiliza esta máscara, destaca o CanalTech.

A Youpin Q5S está disponível em apenas alguns países, e tem um custo de 33 dólares, cerca de 30 euros."​

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Mistura de nanopartículas carregadas pode ser o cocktail fatal das células cancerígenas

- 18 de Abril de 2020 -

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Uma equipa de investigadores da Coreia do Sul descobriu que podem dar um golpe fatal nas células cancerígenas com uma cuidadosa mistura de nanopartículas carregadas.

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Os lisossomas são os caixotes do lixo das células. Contêm enzimas e ácidos que servem para quebrar e reciclar componentes celulares danificados e indesejados.

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Normalmente, explica o New Atlas, os lisossomas rejeitam os subprodutos deste processo de degradação libertando-os para fora da célula, uma vez que mantê-los no interior seria prejudicial a longo prazo. A perfuração dos lisossomas destrói a célula, desencadeando a morte celular – uma característica positiva se estivermos a falar de células cancerígenas.

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Como os lisossomas das células cancerígenas são mais fáceis de danificar do que os lisossomas das células saudáveis, muitos cientistas estudam o uso desta estratégia como uma alternativa promissora para atacar cancros resistentes a tratamentos convencionais.

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No entanto, só algumas terapias conseguem agir especificamente contra estes lisossomas, e a maioria não consegue evitar danos nas células saudáveis.

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Recentemente, uma equipa de cientistas do Instituto de Ciências Básicas (IBS) da Coreia do Sul, liderada por Bartosz A. Grzybowski, descobriu que as nanopartículas cobertas com uma mistura de moléculas carregadas positiva e negativamente podem matar seletivamente as células cancerígenas.

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A morte das células cancerígenas ocorre como resultado de um processo que culmina na formação de cristais com um tamanho da ordem do micrometro, feitos de nanopartículas, dentro dos lisossomas das células cancerígenas – uma catástrofe que os lisossomas são incapazes de suportar. Por isso, sucumbem.

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As nanopartículas formam-se em aglomerados na superfície das células cancerígenas. Depois, transformam-se em cristais dentro dos lisossomas, fazendo-os inchar, deteriorar-se gradualmente e, eventualmente, morrer.

Os investigadores esperam que esta nova técnica, quando refinada e aprovada em ensaios clínicos, mate seletivamente vários tipos de células cancerígenas. O artigo científico foi publicado na Nature Nanotechnology.

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Consórcio português cria um teste para imunidade à Covid-19

- 19 de Abril de 2020 -

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Se um de nós já esteve em contacto com o vírus da covid-19, mesmo não o sabendo, esse encontro deixou marcas no nosso sistema imunitário, que reagiu produzindo anticorpos específicos contra o coronavírus SARS-CoV-2.

 

Tal contacto pode ser denunciado com testes (serológicos) que procurem esses anticorpos no soro sanguíneo de uma pessoa. Sendo o SARS-CoV-2 totalmente novo para nós, pelo mundo estão a desenvolver-se testes serológicos que respondam a uma série de incógnitas sobre o vírus. Quem já esteve infectado sem nunca ter tido sintomas? Será que o vírus desencadeia a produção de anticorpos capazes de fornecer imunidade? E esta protecção é sazonal ou de longa duração? Cinco instituições científicas portuguesas avançaram, juntas em consórcio, para o desenvolvimento de um teste serológico a aplicar na população portuguesa e ajudar, ao mesmo tempo, a esclarecer estes grandes enigmas.

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Eis as cinco instituições do consórcio Serology4Covid: o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC); o Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Universidade de Lisboa; o Centro de Estudos de Doenças Crónicas (Cedoc) da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa; o Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB) da Universidade Nova de Lisboa; e o Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (IBET).

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O consórcio já tem o protótipo do teste e já o testou em dezenas de amostras de sangue de pessoas que tiveram covid-19 e de sangue antigo (colhido antes do aparecimento do vírus, que serve de controlo). “Até ao final desta semana, esperamos ter analisado 100 amostras para ter o teste validado”, informa o imunologista Bruno Silva-Santos, vice-director do IMM, esclarecendo que daqui a uma ou duas semanas a fase de desenvolvimento do teste deverá estar terminada.

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“A ideia é ter um teste que possa ser feito em larga escala e que possa medir se as pessoas têm anticorpos contra o SARS-CoV-2 – se já viram essa infecção, porque há pessoas assintomáticas que não sabem que tiveram a doença. Se estão imunes, se têm de ser vacinadas e quão longa pode ser essa imunidade”, assinala também Mónica Bettencourt-Dias, directora do IGC, em Oeiras. Estas questões são importantes, contextualiza a investigadora, para gerir a pandemia no futuro, até porque 80% dos casos detectados de covid-19 têm sintomas leves ou moderados e cerca de 25% dos casos nem sequer têm qualquer sintoma, ainda que possam propagar a infecção.

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Os passos seguintes do consórcio passam por encontrar um parceiro na indústria biotecnológica que produza o teste serológico em massa, bem como a articulação com as autoridades de saúde quanto à sua aplicação na população portuguesa. “A visão do consórcio é produzir um teste que só tenha associado o preço de custo para ser aplicado facilmente à escala nacional, em coordenação com o Ministério da Saúde, a Direcção-Geral da Saúde e o Insa [Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge]”, frisa Bruno Silva-Santos.

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Vamos por partes em relação aos testes. Há os testes moleculares e os testes serológicos. Os que têm estado a ser aplicados em Portugal no diagnóstico da covid-19 são os moleculares: detectam a presença do próprio material genético do vírus (a molécula de ARN) nos doentes, em amostras colhidas no nariz ou na garganta. Ao permitirem ver quem está infectado nesse instante, possibilitam a detecção do vírus durante a infecção.

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Já os testes serológicos detectam no soro sanguíneo os anticorpos desenvolvidos pelo sistema imunitário em resposta à infecção. No caso do novo coronavírus, os anticorpos começam a surgir apenas na segunda semana após o início da infecção. Por isso, embora possam ser usados no diagnóstico, testes serológicos não são os mais indicados para detectar precocemente a infecção e evitar o contágio. Dizem “apenas” que a pessoa esteve em contacto com esse agente patogénico. Pode ainda estar infectada, mas também pode já nem estar e ter ficado a memória dessa infecção através dos anticorpos. No entanto, numa fase posterior os testes serológicos são valiosos para avaliar a imunidade adquirida a nível individual e, depois de muitos de nós termos tido contacto com o vírus, a imunidade como grupo populacional protegendo-nos uns aos outros, sobretudo perante um vírus desconhecido até há poucos meses como o SARS-CoV-2.

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“Como todos os outros vírus, este também induz uma resposta no hospedeiro. Claramente, há anticorpos na população humana que neutralizam este vírus”, explica Bruno Silva-Santos. “Não sabemos é se os anticorpos de cada pessoa a protegem da entrada do vírus na célula. A dúvida é se, em todas as pessoas que têm anticorpos, eles bloqueiem a entrada do vírus. Quem é que, tendo anticorpos, está realmente protegido?”

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Da China para os EUA
Perante esta nova ameaça global, os cientistas têm-se apressado por todo o lado a desenvolver protótipos de testes serológicos para o SARS-CoV-2. Porém, este é um terreno totalmente novo que se está a desbravar. Muitos destes testes, além de caros para aplicar em massa, ainda têm uma percentagem elevada de resultados que são falsos negativos e falsos positivos. Países como Espanha e o Reino Unido já se confrontaram com esse problema em testes encomendados.

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Atingindo de rompante a espécie humana como uma forma estranha de pneumonia no final de Dezembro de 2019, na cidade chinesa de Wuhan, o vírus foi rapidamente isolado e o seu genoma sequenciado por cientistas chineses. A 10 Janeiro, tornavam esses dados públicos.

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Pegando na sequenciação genética do vírus, nos Estados Unidos a equipa de Florian Krammer, da Escola de Medicina Icahn do Hospital do Monte Sinai (Nova Iorque), isolou as sequências do gene envolvidas na codificação de uma proteína viral muito importante. Essa proteína, que é um pico à superfície do vírus, é a espícula, ou spike. O vírus usa a espícula para entrar nas células humanas, em particular usa uma parte da proteína a que se chama o “domínio de ligação ao receptor”. O receptor, esse, encontra-se à superfície das nossas células. A espícula é a chave com que o SARS-CoV-2 abre a porta das células humanas, ligando-se ao tal receptor, e depois entra e replica-se aí.

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Em seguida, a equipa de Florian Krammer pegou nas sequências genéticas da proteína inteira da espícula, bem como só da parte do domínio de ligação ao receptor, e colocou-as dentro de um plasmídeo. Os plasmídeos são fragmentos de ADN de forma circular, geralmente bacterianos. Como podem ser modificados ao juntarem-se-lhes novos fragmentos de ADN, são uma ferramenta muito útil para inserir material genético em células-alvo.

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Foi assim que a equipa de Florian Krammer introduziu, em células humanas, a sequência genética da proteína inteira da espícula do novo coronavírus e só da parte do domínio de ligação ao receptor. As células passaram então a fabricar esses pedacinhos do vírus. Por fim, a equipa revelou o protocolo seguido, passo a passo, num artigo científico disponibilizado no repositório medRxiv, para que o processo de produção desses pedaços do vírus pudesse ser repetido em qualquer sítio do mundo. Informação que é preciosa para desenvolver testes serológicos.

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E porquê esta proteína? Porque, neste caso, o nosso sistema imunitário também a reconhece como um agente estranho que nos pode prejudicar. E procura atacá-la. Uma das formas de ataque é através da produção dos tais anticorpos dirigidos concretamente a um agente patogénico, neste caso a esta partícula viral. Feitos à medida, esses anticorpos encaixam na perfeição no antigénio desse agente patogénico específico, bloqueando a sua entrada nas células. Um teste serológico socorre-se assim dos dois lados desta mesma moeda. No kit está o antigénio do vírus e na amostra de soro sanguíneo de uma pessoa poderão estar (ou não) os anticorpos. Ao colocar-se o soro no kit, o antigénio funciona como isco dos anticorpos.

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Por correio até Portugal
No seu artigo científico, Florian Krammer dizia que os plasmídeos que desenvolveram estariam disponíveis para quem os quisesse, de forma a poder produzir-se a proteína inteira do vírus ou parte dela. O mundo ouviu-o e os seus materiais e protocolo estão a ser usados por todo o lado como base para desenvolver testes serológicos. Igualmente, foi o que fez o consórcio português.

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No início deste mês, o consórcio estava a receber dos Estados Unidos um papel de feltro laboratorial embebido com gotinhas dos plasmídeos, conta a engenheira bioquímica Paula Alves, directora do IBET, em Oeiras. “Pegámos no material enviado dos Estados Unidos e produzimos as proteínas em quantidade para dar aos nossos colegas [do consórcio].”

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Para aumentar a quantidade de proteínas virais, agora de produção portuguesa, os plasmídeos foram igualmente introduzidos em células humanas. “As células humanas são usadas como fábricas: com elas conseguimos produzir a proteína o mais próximo possível da realidade do vírus quando ele infecta as células.” Portanto, são elas que vão fabricar para nós os antigénios do novo coronavírus. Como são células humanas, os anticorpos no soro humano poderão reconhecê-las mais facilmente. “Na China, há antigénios à venda e podemos comprá-los, mas não foram produzidos em células humanas. Podem não funcionar muito bem. Um dos problemas [dos testes serológicos para este vírus] são os falsos negativos e falsos positivos.”

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Como o mundo está em correria a criar protótipos de testes serológicos para o novo coronavírus, alguns já em células humanas, não tardarão a aparecer no mercado testes bastante fiáveis. Porquê então este esforço em Portugal? “Porque podemos ter testes serológicos completamente feitos em Portugal sem estar dependentes de cadeias de fornecimento. Como se viu com as máscaras, ficavam pelo caminho. O que queremos é ser auto-suficientes”, responde Paula Alves. Bruno Silva-Santos partilha dessa visão, até porque, como os testes serológicos para a covid-19 estão a entrar em grande acção no mundo no combate à pandemia, a sua procura é muita. “Queremos ter um teste para aplicação em Portugal em larga escala, para isso tem de ser barato, e não queremos ter restrições de acesso aos kits”, acrescenta Bruno Silva-Santos.

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“Enquanto não houver uma vacina, temos de seguir o estado imunológico da população portuguesa com testes em larga escala, para perceber como a infecção está a progredir e ajudar o Governo a tomar a decisão de reabertura da sociedade para controlar a densidade de pessoas em contacto umas com as outras”, completa o imunologista. “A vacina é uma forma de induzir a imunidade de grupo. Não tendo a vacina, as pessoas só adquirem imunidade através da infecção.”

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Mas não é claro ainda se a infecção pelo SARS-CoV-2 depois se traduz de facto em protecção, se essa protecção é para a vida como no sarampo, se é sazonal como na gripe, ou até se pode voltar a ser-se infectado ao fim de pouco tempo da doença. “A presença de anticorpos é um indicador do potencial de imunidade à partida, mas isso tem de ser validado depois. Temos de ver se a pessoa ficou protegida”, resume Bruno Silva-Santos. “E depois, com a vacina, a única forma de saber se ela é eficaz é ver quantas pessoas desenvolverem anticorpos e estão protegidas.”

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Helena Soares, investigadora do Cedoc citada em comunicado, acrescenta que este teste permitirá também “quantificar possíveis diferenças na produção de anticorpos entre portadores assintomáticos, casos ligeiros e casos mais graves, com importantes repercussões a nível da saúde individual e pública”.

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Regressando ao IBET, a proteína do vírus que foi aí fabricada seguiu depois até aos outros quatro parceiros do consórcio. A cada um coube desenvolver o resto do teste serológico e validá-lo em amostras de soro sanguíneo, para evitar “falsos positivos” e “falsos negativos”. Fixaram a proteína em placas de plástico e começaram a inocular-se aí o soro de quem teve covid-19 e de quem nunca poderia ter tido. “Tem de detectar quem tem muito poucos anticorpos. É o busílis da questão”, exemplifica Bruno Silva-Santos. “Essa ligação é detectada por um reagente que emite luz. Se houver anticorpos, há emissão de uma luz amarela, que é medida num detector. Quando é muito amarela, há muitos anticorpos.”

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O Insa, que é laboratório nacional de referência nestas questões, terá ainda de certificar este teste serológico. Aliás, o Insa vai começar em Maio um estudo-piloto serológico numa amostra de 1700 pessoas representativas da população portuguesa. Os testes, neste caso, são comerciais e a sua real eficácia está em avaliação pelo Insa.

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Já o teste desenvolvido pelo consórcio português terá os seus protocolos experimentais divulgados de forma totalmente aberta à comunidade científica. Mas, para poder chegar à população portuguesa em grande escala, falta ainda encontrar uma empresa de biotecnologia que o fabrique a preço de custo. E decidir em que moldes será fabricado – se como uma placa laboratorial (com resultados mais lentos, mas mais rigorosos), se num dispositivo individual à semelhança de um teste de gravidez (mais rápido, mas menos informativo). Mónica Bettencourt-Dias diz que o consórcio está a falar com a indústria nesse sentido, além de se ir articular com o Governo para ver onde, quando e a quem aplicar os testes.

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Nesse dia, esta história ter-se-á tornado um dos exemplos do esforço global dos cientistas no combate à pandemia, com impacto imediato nas nossas vidas.

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AVC: cientistas restauraram a mobilidade e a sensibilidade ao toque em ratos

- 20 de abril de 2020 -

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Investigadores conseguiram restaurar a mobilidade e a sensibilidade ao toque de ratos que sofreram um acidente vascular cerebral (AVC).

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Uma equipa de cientistas da Universidade de Lund, na Suécia, mostrou que, ao transplantar neurónios derivados de células estaminais pluripotentes (iPS) induzidas por humanos em cérebros de ratos, é possível restaurar a mobilidade e a sensibilidade ao toque nos animais que sofreram acidentes vasculares cerebrais (AVC).

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Muitos pacientes que sofrem acidentes vasculares cerebrais apresentam incapacidade a longo prazo e o transplante de células estaminais é a nova estratégia para a recuperação. No entanto, adianta o Sci-News, pouco se sabe sobre se estas células conseguem formar conexões funcionalmente integradas com neurónios no cérebro do recetor.

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A equipa transplantou neurónios corticais derivados de células estaminais pluripotentes humanas no córtex cerebral de ratos com AVC isquémico. “Seis meses após o transplante conseguimos observar que as novas células repararam os danos causados ​​por um derrame no cérebro dos ratos”, detalhou Zaal Kokaia, autor do artigo científico, publicado recentemente na Proceedings of the National Academy of Sciences.

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“Usamos técnicas de rastreamento, microscopia eletrónica e outros métodos para desativar a atividade nas células transplantadas, como uma maneira de provar que estas células se conectaram corretamente aos circuitos nervosos danificados”, explicou o investigador. “É notável descobrir que é possível reparar um cérebro danificado por um derrame e recriar conexões nervosas que foram perdidas.”

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Esta nova investigação acende a esperança de que, no futuro, será possível substituir células nervosas mortas por novas células nervosas saudáveis em pacientes com AVC, apesar de a comunidade científica estar ciente de que há um longo caminho a percorrer.

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Aumentam casos de intoxicação nos EUA por produtos de limpeza durante pandemia 

- 21 de abril de 2020 -

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O número de consultas por intoxicação por produtos de limpeza e desinfetantes, em particular água sanitária e álcool em gel, aumentou 20% nos Estados Unidos, informou nesta segunda-feira (20) o Centro de Controle de Doenças (CDC).

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Os centros de controle de intoxicações receberam 45.550 chamadas no primeiro trimestre do ano contra 37.822 no mesmo período de 2019. 

O aumento está sem dúvida relacionado com a pandemia da Covid-19, indicam os autores do informe, que não fazem alusão a mortos.

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´´No detalhe, houve o dobro de consultas por inalação de produtos desinfetantes e cerca de 40% delas em crianças menores de cinco anos.´´

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O informe citou dois exemplos. Um deles foi o de uma mulher que encheu a pia com água quente, vinagre e água sanitária a 10% para lavar frutas e verduras. A mistura do cloro e do vinagre provocou uma reação química e a mulher inalou os vapores, causando-lhe tosse. Após pedir socorro, foi levada ao hospital, onde recebeu oxigênio e tratamento para dilatar os brônquios.

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O outro exemplo foi o de uma menina de menos de cinco anos, que ingeriu álcool em gel à base de etanol. Sentiu enjoo, caiu e bateu com a cabeça. Seu nível de álcool no sangue foi de 273 mg/dl (mais de três ou quatro vezes o limite para dirigir sob influência de álcool, segundo a jurisdição) e precisou ficar hospitalizada durante 48 horas.

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Covid-19: especialistas avaliam potencial de fármaco da asma em doentes internados no São João 

- 22 de abril de 2020 -

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Especialistas do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e do Centro Hospitalar Universitário de São João vão avaliar o potencial de um fármaco, usado na terapia da asma, em doentes internados com pneumonia “moderada a grave”.

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“O ponto forte deste trabalho é ir buscar um fármaco - o montelucaste​- que é muito seguro e tem potencial. Há uma plausibilidade biológica para ele funcionar”, afirmou esta quarta-feira, em declarações à Lusa, André Moreira, médico do Hospital de São João e investigador do ISPUP.

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O projecto, desenvolvido no âmbito da linha de financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia RESEARCH 4 COVID-19, envolve investigadores do ISPUP e mais de 20 especialistas do Hospital de São João, no Porto.

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A equipa, que aguarda a aprovação da Comissão Nacional de Ética, pretende testar nos doentes daquele hospital, com menos de 65 anos, e que estão internados (não em ambulatório) com pneumonia pelo SARS-CoV-2 “moderada a grave”, o potencial do fármaco.

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“Uma das moléculas que aparece como sendo uma potencial inibidora das protéases do vírus foi o montelucaste​, que é um medicamento usado há muitos anos no tratamento da asma e da rinite alérgica. O fármaco é 100% seguro e pode ser usado em grávidas, crianças de seis meses ou doentes hepáticos”, explicou o especialista.

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Com cerca de 150 doentes internados no Hospital de São João, a equipa vai por isso fazer uma “prova de conceito” e perceber se o fármaco, em conjunto com o habitual tratamento para a covid-19, tem vantagens, nomeadamente se diminui a “gravidade da duração e intensidade da doença”. “Se isto acontecer nesta população, então justifica avançar para idades diferentes e doentes em ambulatório, mas este é o ponto de partida”, referiu.

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À Lusa, André Moreira avançou que o fármaco, que em ensaios in vitro inibiu uma das protéases do vírus e funcionou em modelos animais, é “extraordinariamente barato e muito usado”. “É um fármaco que é extraordinariamente barato e muito usado, quem tem alergias conhece bem, existem dezenas de genéricos disponíveis e estamos a falar de um medicamento que, em termos de custo, é mesmo barato”, afirmou o especialista, adiantando que também os efeitos adversos são “conhecidos”.

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“O efeito adverso, que tem mais a ver com perturbações do sono e do estado de humor, é conhecido há muito tempo, não é um efeito grave e é perfeitamente reversível em três dias. Para este tipo de população, em ambiente hospitalar, não é um efeito que seja comparativamente a outros fármacos relevante”, salientou.

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A equipa de especialistas prepara-se também para fazer o registo na plataforma da Agência Europeia do Medicamento para que “os outros países saibam”. “Há apenas uma referência de um grupo chinês que sugeriu o reposicionamento deste fármaco, mas até agora não há nenhum ensaio numa perspectiva global a ser feito e queremos comunicar a intenção de fazer”, concluiu.

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Com um financiamento de 30 mil euros, este é um dos 66 projectos apoiados pela linha de financiamento RESEARCH 4 COVID-19, que visa responder às necessidades do Serviço Nacional de Saúde."

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Cientistas franceses querem avaliar efeitos do tabaco na covid-19

- 23 de abril de 2020 -

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Cientistas em França estão a planear testar adesivos de nicotina em doentes com covid-19. A ideia para estes ensaios clínicos surge depois de um estudo num hospital em França sugerir que há um baixo número de fumadores entre os doentes com covid-19. Mas, tal como médicos e outros investigadores destacam, esta é uma relação não provada e deve destacar-se que o tabaco danifica os pulmões e tem outros efeitos nefastos graves na saúde.

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Um estudo feito no Hospital La Pitié-Salpêtrière, em Paris, questionou 480 doentes com covid, sendo que 350 deles estavam hospitalizados. Viu-se que 4,4% dos doentes hospitalizados eram fumadores regulares. Dos que estavam em casa, 5,3% fumavam. Como tal, os autores do estudo (disponível em pré-publicação no site Qeio) que há uma baixa percentagem de fumadores entre os infectados. Citando outros estudos, a agência de notícias AFP refere que a taxa de doentes com covid-19 hospitalizados varia entre 1,4 e 12,5%.

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VACINA CONTRA CORONAVÍRUS É TESTADA COM SUCESSO EM MACACOS 

- 24 de Abril de 2020 -

 

Uma vacina experimental contra o novo coronavírus apresentou pela primeira vez resultados promissores quando aplicada em um grupo de macacos, segundo o laboratório chinês Sinovac Biotech, que fez o experimento nesta sexta-feira (24). A informação é da agência de notícias France Presse.

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Os resultados ainda precisam ser validados pela comunidade científica.

Para chegar a uma vacina efetiva, os pesquisadores precisam percorrer diversas etapas, passando por testes pré-clínicos, que podem ser in vitro ou em animais; e depois para os ensaios clínicos. Estima-se que uma vacina eficaz levará entre 12 e 18 meses para ser produzida.

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Um balanço da Organização Mundial de Saúde (OMS), com dados até 20 de abril, aponta que até agora ao menos 76 pesquisas de vacinas estão em andamento em todo o mundo – 71 em fase pré-clínica e 5 em fase clínica.

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Nesta sexta, a OMS anunciou o lançamento de uma iniciativa colaborativa para medicamentos, testes e vacinas contra a Covid-19. Segundo a OMS, a iniciativa – chamada de Access to Covid-19 Tools Accelerator, ou o ACT Accelerator –, irá tornar as tecnologias contra a doença "acessíveis a todos que precisam delas, no mundo inteiro".

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Usando patógenos inertes do vírus que causa a Covid-19, a vacina foi ministrada em oito macacos Rhesus, que depois foram contaminados artificialmente, de acordo com os resultados do estudo, publicado pelo gigante farmacêutico Sinovac Biotech.

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"Os quatro macacos que receberam a vacina em alta dose não tinham vestígios do vírus nos pulmões sete dias após a contaminação", afirmou o laboratório.

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Outros quatro macacos, que receberam a mesma vacina, porém em doses mais baixas, apresentaram maior carga viral no corpo. Este grupo também conseguiu resistir à doença.

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"Estes são os primeiros dados sérios que eu vejo sobre uma vacina experimental", disse Florian Krammer, virologista da Escola de Medicina Icahn em Nova York, no Twitter.

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"A questão é se essa proteção dura muito tempo", questionou a imunologista Lucy Walker, da University College London.

Além do experimento do Sinovac, Pequim aprovou outros dois testes de vacina: um, em Hong Kong; e outro, em Wuhan, onde o patógeno emergiu no final do ano passado.

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“Ataque cardíaco, derrame e doença renal”. Médicos alertam para efeitos do coronavírus após recuperação 

- 25 de Abril de 2020 -

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Os doentes que foram internados em cuidados intensivos devido à covid-19 e que recuperaram podem sofrer efeitos persistentes do vírus, que danifica os pulmões mas também outros órgãos, segundo uma nova investigação.

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A covid-19 danifica não apenas os pulmões mas também os rins, os vasos sanguíneos, o coração, o cérebro e outros órgãos, segundo a mesma revista norte-americana, que acrescenta que são ainda desconhecidos os problemas a longo prazo causados pelo novo coronavírus, que provoca a doença covid-19.

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A especialista diz que a maioria dos doentes que estiveram ligados a ventiladores poderá recuperar a sua função pulmonar, mas que outros podem ficar com problemas respiratórios durante muito tempo. “Após qualquer caso grave de pneumonia, uma combinação de doenças crónicas subjacentes e inflamações prolongadas parece aumentar o risco de outras doenças, incluindo ataque cardíaco, derrame e doença renal”, diz Sachin Yende, epidemiologista da Universidade de Pittsburgh, também nos Estados Unidos.


E Dale Needham, da Universidade Johns Hopkins, também nos Estados Unidos, acrescenta que os doentes que passam algum tempo em cuidados intensivos, independentemente da doença que os leva lá, também são propensos a um conjunto de problemas de saúde física, cognitiva e mental, depois de saírem.

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Doentes com longos períodos de ventilação são propensos a atrofia e fraqueza muscular, e correm ainda o risco de delírio, até por causa dos sedativos a que são sujeitos.

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Terri Hough, médico de cuidados intensivos pulmonares da universidade norte-americana de Washington, diz que se as pessoas não devem ser colocadas com ventiladores mais tempo do que o necessário, porque tal afeta-lhes a saúde após a recuperação.

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Os resultados da investigação foram esta sexta-feira publicados na revista Science.

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O novo coronavírus, que provoca a doença covid-19, já provocou mais de 200 mil mortos e infetou mais de 2,7 milhões de pessoas em 193 países e territórios, segundo um balanço da AFP. Em Portugal, morreram 854 pessoas das 22.797 confirmadas como infetadas, e há 1.228 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.

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Desvendada mais uma peça da relação intrincada entre a diabetes e a doença de parkinson

- 26 de Abril de 2020 -

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Cientistas portugueses têm vindo a explorar a relação entre a diabetes e a doença de Parkinson. Agora, trazem-nos novidades sobre uma proteína que poderá contribuir para novas estratégias terapêuticas.

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Se alguém for diabético, terá uma probabilidade maior de vir a desenvolver a doença de Parkinson. Aos poucos, os cientistas têm vindo a desvendar os mecanismos por detrás dessa relação. Desta vez, uma equipa de investigadores portugueses vasculhou um desses mecanismos: sabia-se que os açúcares diminuem os níveis de uma proteína (a Hsp27), o que permite que uma outra proteína importante na doença de Parkinson fique anómala e, com isso, se torne tóxica para os neurónios. Em modelos celulares, a equipa compensou os níveis da Hsp27 e evitou os efeitos tóxicos do aumento dos açúcares. Está assim encontrada uma pista molecular que pode ser um alvo terapêutico para a doença de Parkinson.

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Apenas entre 2 e 5% dos casos de doença de Parkinson são hereditários. Sabe-se ainda que o envelhecimento e a diabetes estão entre os factores de risco da Parkinson. Num estudo de 2018 que envolveu cerca de oito milhões de indivíduos viu-se que os diabéticos tinham uma probabilidade muito maior de vir a desenvolver a doença de Parkinson. Se alguém entre os 25 e os 45 anos tiver diabetes, esse factor de risco aumenta em 380% relativamente uma pessoa que não tem diabetes. Por isso, é importante explorar quais as associações a nível molecular que a diabetes pode estar a causar.

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Tendo isto – e muito mais – em conta, equipas com cientistas portugueses têm vindo a explorar a relação entre diabetes e doença de Parkinson. Em 2017, um grupo liderado por Tiago Outeiro, agora na Faculdade de Medicina na Universidade de Göttingen, na Alemanha, revelou que a glicação (reacção de açúcares com proteínas) leva a que a proteína alfa-sinucleína se torne anómala e comece a aglomerar-se. Estes agregados tornam-na tóxica e fazem com que mate neurónios, nomeadamente os que produzem dopamina. A falta deste neurotransmissor leva a que comecem a ocorrer falhas sobretudo a nível motor, porque a informação não chega correctamente ao córtex cerebral.

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A equipa observou este fenómeno em modelos celulares, moscas-da-fruta e ratinhos. Quando a equipa aumentou a glicação, viu que as moscas-da-fruta tinham problemas motores. Mas, se as tratassem com fármacos que têm a capacidade de evitar a glicação, recuperavam a capacidade motora. Já nos ratinhos viu-se que a glicação levava à perda de neurónios dopaminérgicos, que tipicamente morrem na doença de Parkinson.

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Neste momento, está a dar-se seguimento a este trabalho com ratinhos: “Vamos efectivamente avaliar a capacidade de alguns destes compostos reverterem esta reacção e serem terapêuticos”, anuncia Hugo Vicente Miranda, investigador principal do Centro de Investigação de Doenças Crónicas, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, e que também participou neste trabalho.

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Em paralelo, quis conhecer-se outro tipo de maquinaria celular que podia estar a ser afectado pela glicação. Já se sabia que a proteína Hsp27 consegue proteger a alfa-sinucleína, ao evitar que entre num processo de agregação. Agora, em células derivadas de tecido cerebral humano, observou-se que, quando há um aumento de açúcares, os níveis da Hsp27 caem drasticamente e esta proteína quase deixa de ser detectada nas células. Como deixa de estar presente, deixa de proteger a alfa-sinucleína.

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Compensaram-se então os níveis da Hsp27 através ferramentas genéticas. Resultado: os açúcares deixaram de causar anomalias na alfa-sinucleína. As conclusões são publicadas este mês na revista científica FASEB com duas equipas coordenadas por Tiago Outeiro e Hugo Vicente Miranda. “Todo o tipo de estratégias que consigam elevar os níveis da Hsp27 podem ser novas estratégias para proteger os neurónios de morrerem”, resume Hugo Vicente Miranda.

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Análise sanguínea pode revelar sinais de Parkinson 10 anos antes do diagnóstico

- 27 de Abril de 2020 -

 

Segundo uma nova investigação, os sinais de autoimunidade podem aparecer nos pacientes com doença de Parkinson anos antes do diagnóstico oficial.

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Há três anos, cientistas da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, descobriram a primeira evidência direta de que a autoimunidade pode desempenham um papel importante no aparecimento de Parkinson. A equipa não desistiu do trabalho e tem procurado mais provas de que o sistema imunológico contribui para o desenvolvimento desta doença.

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O nosso corpo protege-nos recorrentemente de vírus, bactérias e células cancerígenas. No entanto, pode também confundir as nossas próprias células com células prejudiciais, e lançar ataques a órgãos e tecidos saudáveis. Este tipo de resposta autoimune pode desencadear doenças como a artrite reumatóide ou a esclerose múltipla.

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Num artigo publicado em 2014, os cientistas descreveram, pela primeira vez, que os neurónios da dopamina são suscetíveis a ataques autoimunes. Por sua vez, a morte destes neurónios é central para o aparecimento dos sintomas de Parkinson.

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Em 2017, a equipa mostrou de que forma uma proteína danificada, conhecida como alfa-sinucleína, desencadeia este processo, servindo como alvo para alguns tipos de células T, que são centrais para a resposta imune do corpo.

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Nos pacientes de Parkinson, estas proteínas agrupam-se em células cerebrais que produzem dopamina, o que faz com que algumas células T confundam as células cerebrais com uma ameaça.

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No trabalho mais recente, a equipa recolheu amostras sanguíneas de um grupo de pacientes com Parkinson e comparou as células T com as de um grupo de controlo composto por indivíduos saudáveis.

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De acordo com o New Atlas, o tipo de células T que respondem à alfa-sinucleína é mais abundante quando o paciente é diagnosticado pela primeira vez com Parkinson. À medida que a doença progride, começam a desaparecer.

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Num dos casos analisados, a análise revelou uma forte resposta das células T à alfa-sinucleína 10 anos antes do diagnóstico, com a atividade das células a desaparecer à medida que a doença progredia.

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“A detecção das respostas das células T pode ajudar no diagnóstico de pessoas em risco ou nos estágios iniciais do desenvolvimento da doença”, disse Alessandro Sette, autor do artigo científico publicado no dia 20 de abril na Nature Communications.

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Estados de confusão e AVC. Coronavírus não causa só pneumonias

- 28 de Abril de 2020 - 

 

Cinco meses depois do início da pandemia, começa a emergir um quadro de sintomas bastante mais vasto e complexo associado à covid-19, que inclui desde problemas cardíacos, renais e do fígado até hemorragias e coágulos no cérebro, que também afetam os mais jovens, como relatou agora uma equipa de médicos de Nova Iorque. Afinal é grande ainda o desconhecimento sobre o vírus e a doença que provoca.

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À medida que a covid-19 alastra no mundo e o número de doentes continua a aumentar - há agora mais de três milhões de infetados, dos quais 208 mil já faleceram - os médicos têm-se confrontado com outras consequências graves da infeção, que podem abranger diferentes órgãos vitais, como o coração, os rins, o fígado e o sistema nervoso central e o cérebro, para além do mais conhecido efeito da doença que é a pneumonia.

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"Parecia que este vírus só causava pneumonia, mas afinal há muitos órgãos que são atingidos, e ainda estamos longe de conhecer a extensão total da sua agressão ao organismo humano", resume José Silva Cardoso, cardiologista no Hospital de São João, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e investigador no CINTESIS- Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, na mesma universidade.

Dois relatórios publicados nas últimas semanas por médicos de hospitais da China e de Estrasburgo indicam que um número significativo dos doentes mais graves de covid-19, alguns deles jovens, apresentam sintomas de confusão, convulsões e problemas sanguíneos ao nível da coagulação que podem desencadear acidentes vasculares cerebrais (AVC), ou problemas noutros órgãos, e levar à morte.

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Um dos estudos, que foi publicado há duas semanas no Journal of the American Medical Association por médicos chineses, e que envolveu 214 doentes, mostra que mais de um terço (36,4%) desenvolveu estes sintomas, incluindo perda de olfato e em alguns casos AVC.

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O outro, de uma equipa de médicos do Hospital e da Universidade de Estrasburgo, que saiu no The New England Journal of Medicine , também há duas semanas, e que envolveu 58 doentes de covid-19, revela que mais de metade apresentavam estados de confusão, com resultados de exames de imagiologia cerebral que mostravam sinais de inflamação.

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Os estranhos AVC em pessoas jovens

Já na semana passada, o diretor de neurologia do Hospital Monte Sinai, de Nova Iorque, Thomas Oxley, alertou para um pequeno número de casos de AVC graves entre os pacientes jovens de covid-19 no seu hospital.

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Trata-se de cinco casos em doentes com menos de 50 anos que ocorreram nas últimas duas semanas, o que multiplica por sete a ocorrência deste tipo de casos no seu serviço.

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"Por comparação, nos últimos 12 meses tratámos no nosso serviço uma média de 0,73 doentes com menos de 50 anos e AVC graves, a cada duas semanas", relata a equipa, citada no jornal digital ABC Science.

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Reconhecendo embora que cinco doentes constituem "uma amostra pequena", a equipa de Oxley defende no artigo que publicará a 29 de abril no New England Journal of Medicine, que "a associação entre AVC de grande dimensão e a covid-19 em doentes jovens exige uma investigação mais aprofundada".

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"Os nossos colegas [de outros hospitais de Nova Iorque] também relatam um aumento deste tipo de casos e por isso ainda não sabemos exatamente qual é verdadeira dimensão deste problema", afirmou ainda o neurologista americano ao ABC Science.

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Um quinto da população tem uma doença que agrava o impacto da covid-19

- 29 de Abril de 2020 -

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Fonte:https://www.sabado.pt/ciencia---saude/detalhe/17-milhoes-de-pessoas-tem-uma-doenca-que-agrava-o-impacto-da-covid-19?ref=SEC_Destaques_ciencia---saude

 

Há 1.700 milhões de pessoas, o equivalente a um quinto da população mundial, que têm pelo menos uma doença que pode agravar o impacto da covid-19. Segundo explica o El País, não são apenas as pessoas mais velhas que podem ser afetadas, sendo que um quarto da população com idade para trabalhar tem alguma patologia prévia que pode debilitar mais a saúde perante o vírus. 

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Os autores destes cálculos defendem ser essencial identificar as pessoas que sofrem destas patologias e determinar o risco extra de cada um, de forma a proteger os mais expostos perante o desconfinamento e criar uma lista dos que são prioritários no momento em que existir uma vacina.  

 

Apesar de ainda não se saber muito sobre os fatores que agravam a doença, várias instituições médicas publicaram guias de urgência sobre as doenças e condições prévias que poderiam traduzir-se em complicações maiores quando acompanhadas pelo novo coronavírus. Além da idade avançada, a Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca as doenças respiratórias crónicas, o cancro e os diabetes e o centro de controlo e prevenção de doenças dos EUA abrange os doentes renais crónicos, os que sofrem de asma grave, obesidade excessiva, transtornos neurológicos e pessoas com VIH.

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Investigadores da Universidade de Londres utilizaram estas listas, por terminar e não universais, para estimar o número de pessoas em todo o mundo que estariam mais expostas à "versão mais severa" da covid-19. Para o efeito analisaram dados recolhidos no estudo Global Burden of Disease, que se realiza a cada dois anos e recolhe estatísticas e estimativas de causas de morte em 190 paises.

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Ao analisar a lista de doenças que agravam a covid-19, os investigadores estimaram que cerca de 22% da população mundial tem pelo menos uma doença ou condição que poderia piorar o impacto do novo coronavírus. Destes 1.700 milhões de pessoas, cerca de 400 milhões terá duas ou mais patologias prévias.

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"Tentámos quantificar quantas pessoas poderiam ser consideradas de maior risco segundo as diretrizes atuais sobre as condições prévias", explicou, citado pelo jornal espanhol, o principal autor do estudo Andy Clark. O professor da London School of Hygiene & Tropical Medicine esclarece, contudo, que isto não significa "que vão desenvolver a versão severa da covid-19 se se infetarem". O que implica "é que seria sensato protege-los da infeção porque têm uma maior probabilidade de contrair uma doença grave", explica.

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Farmacêutica anuncia medidas para produção em larga escala de vacina ou tratamento contra a Covid-19

- 30 de Abril de 2020 -

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A companhia farmacêutica Pfizer informou nesta terça-feira (28) que está implantando medidas para produzir uma vacina ou um tratamento em larga escala contra a Covid-19, doença causada pelo vírus Sars CoV-2.

Há cerca de uma semana, a agência reguladora da Alemanha (Paul Ehrlich Institute) aprovou o início dos testes clínicos para quatro vacinas contra o Sars-CoV-2. As empresas Pfizer e BioNTech farão os ensaios iniciais em 200 humanos saudáveis com idade entre 18 e 55 anos.


As farmacêuticas desenvolvem juntas a vacina BNT162, baseada em mRNA (RNA mensageiro). Ambas utilizam unidades de pesquisa e desenvolvimento, nos Estados Unidos e na Alemanha, para abrigar as atividades identificadas pelo acordo de colaboração.

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Os pacientes irão receber doses que variam de 1 µg (micrograma) a 100 µg, uma forma de testar a eficiência e a segurança da imunização. Em breve, de acordo com a Pfizer, a FDA (Food and Drug Administration, em inglês), agência reguladora dos Estados Unidos, deverá liberar os testes também no país.

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A Pfizer afirma que, caso os testes sejam bem-sucedidos, milhões de doses podem ser produzidas até o final deste ano.

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